Cuidar do Planeta também é cuidar da sua pele

Vanessa e Francisco estavam se encaminhando para o terceiro dia da tão esperada viagem ao parque da Disney em Orlando (Estados Unidos), em comemoração aos dois anos de casamento. Tudo estava indo conforme o planejado, cada dia melhor, até que Vanessa começou a sentir uma insaciável coceira em suas panturrilhas. Sentou-se para descansar um pouco e lá estava seu mais novo souvenir da viagem, uma série de brotoejas vermelhas em sua pele. Quando procuraram ajuda médica ao chegarem no hotel, descobriram que se tratava de mais um caso de “Disney Rash”, nome popular dado a Vasculite Induzida por Exercício.

Também conhecida como “golfer’s rash”, “hiker’s rash”, e “golfer’s vasculitis” a enfermidade é ocasionada por uma combinação de múltiplos fatores ambientais e climáticos: altas temperaturas (principalmente), exposição ao sol, e períodos prolongados de exercícios – como caminhadas, golfe, dança – resultando em um processo de inflamação dos vasos sanguíneos da pele. A princípio, a situação de Vanessa e Francisco parece ser um caso isolado, quando na verdade faz parte de uma extensa lista de dermatites e infecções cutâneas que cada dia mais farão parte do nosso cotidiano em virtude das mudanças climáticas. 

A pele, além de ser o maior órgão do corpo humano, é a sua principal barreira protetora, sendo o mais exposto às variações ambientais. O clima quente, resultante do aumento das temperaturas globais, motiva os indivíduos a passarem mais tempo ao ar livre, muitas vezes, sem roupas de proteção. Para os brasileiros em especial, esse é o cenário perfeito para ir tomar um banho de sol na praia. Estudos preveem que para cada aumento de 2 graus na temperatura média da superfície do planeta, haverá um aumento associado de 10% do efeito carcinogênico da radiação UV.

As mudanças climáticas possivelmente influenciam o comportamento da camada de ozônio, barreira que nos protege contra os raios ultravioletas do sol, ao interferir no fluxo da circulação e composição atmosférica. Quanto maiores as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE), maior será o aumento das temperaturas médias do planeta, o que por sua vez aumenta a quantidade de vapor d’água na atmosfera. Além de atuar também como um gás de efeito estufa, o vapor d’água acelera o processo de destruição da camada de ozônio de três formas: i) ao aumentar a área da superfície das partículas de aerossol nas quais as moléculas de halogênio destruidoras da camada de ozônio podem ser ativadas; ii) ao se quebrar na estratosfera, liberando moléculas reativas de óxido de nitrogênio que também destroem o ozônio, e reagem com gases contendo cloro, convertendo-os em formas mais destrutivas; iii) à medida que a água aumenta, a temperatura limite para a ativação do halogênio aumenta, estendendo o período de tempo em que as reações que destroem a camada de ozônio podem ocorrer.

Ademais, o estresse físico e psicológico ocasionado por eventos climáticos extremos e suas consequências, têm sido associados ao aumento de surtos de doenças como dermatite atópica, alopecia areata, vitiligo e psoríase.

Como proceder então para que todo o seu investimento feito em skin care nos últimos anos não tenha sido em vão, e ao mesmo tempo resguardar a sua saúde? Medidas de prevenção incluem manter um alto grau de hidratação da pele, beber bastante água, usar protetor solar (não só em ambiente externo, mas também dentro de casa), evitar banhos em água quente (sugere-se banho em água morna), evitar atrito intenso, evitar lavar as mãos e rosto com muita frequência (além do necessário para se manter a higiene) e usar roupas que deixem a sua pele respirar e transpirar. Como várias das doenças de pele estão também relacionadas a umidade do ambiente, métodos caseiros de umidificação podem ser empregados, como colocar recipientes (ex :panela) com água em casa, usar umidificadores de ar, evitar ficar diretamente exposto ao fluxo de ar direcionado dos aparelhos de ar condicionado, e manter o ambiente bem ventilado. Por fim, relembre-se que proteger o seu planeta, também é proteger a sua pele.

Referências

  • Espitia, O., Dréno, B., Cassagnau, E., Didier, Q., Quillard, T., Nicol, C., … Pistorius, M.-A. (2016). Exercise-Induced Vasculitis: A Review with Illustrated Cases. American Journal of Clinical Dermatology, 17(6), 635–642.
  • Balato N, Megna M, Ayala F, Balato A, Napolitano M, Patruno C. Effects of climate changes on skin diseases. Expert Rev Anti Infect Ther. 2014;12(2):171-181. doi:10.1586/14787210.2014.875855.
  • K.H. Rosenlof / C. R. Changes in water vapor and aerosols and their relation tostratospheric ozone. Geoscience 350 (2018) 376–383.
  • Shindell, D.T. 2001. Climate and ozone response to increased stratospheric water vaporGeophys. Res. Lett. 28, 1551-1554.
  •  Hegglin, M. I., & Shepherd, T. G. (2009). Large climate-induced changes in ultraviolet index and stratosphere-to-troposphere ozone flux. Nature Geoscience, 2(10), 687–691.

Para quem quer conhecer mais

Palestra da Dr. Mary Willians, Professora Clínica de Dermatologia na Universidade de Califórnia em São Francisco sobre os efeitos da poluição atmosférica e do aquecimento global na pele.

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